Na última noite de domingo para segunda dormi mal, fiquei virando
na cama, de um lado para o outro, como se
alguém tentasse o tempo todo falar comigo e eu não
quisesse ouvir. Por isso minha cabeça ficou meio
congestionada, então eu queria passar o dia bem
tranquilo, descansar. Daí lembrei-me da antessala do céu. Ao que tudo
indica, o lugar mais tranquilo de toda a existência.
Há algum tempo atrás era um lugar movimentado, pois todos que estavam para entrar aos céus tinham que passar por lá. Em épocas mais agitadas, datas de grande número de ingressantes, o lugar chegava e ter algumas filas no atendimento e ouvia-se um certo burburinho, situação quase desconfortável para um lugar assim tão sóbrio e sereno.
Há algum tempo atrás era um lugar movimentado, pois todos que estavam para entrar aos céus tinham que passar por lá. Em épocas mais agitadas, datas de grande número de ingressantes, o lugar chegava e ter algumas filas no atendimento e ouvia-se um certo burburinho, situação quase desconfortável para um lugar assim tão sóbrio e sereno.
Com o tempo, em decorrência dessas
mudanças de estilo típicas da vida
moderna, o volume de novos habitantes veio
sofrendo lentas e graduais, mas sensíveis
quedas. Somando-se isso ao
aprendizado adquirido nas datas de
rush, os comitês de
logística e operações
tomaram uma decisão quase
que radical, para os padrões da casa: As
recepções passaram a
ocorrer diretamente nos
portais de entrada. Uma vez que você
cruzasse um deles, estaria em
um amplo hall,
com modernos
guichês de
atendimento, um confortável lounge com música
ambiente, sofás confortáveis,
naquele clima
perfeito
que só o céu
pode oferecer,
caso
alguém tenha
que aguardar
um
atendimento.
Uma beleza de
se ver.
A
antessala do
céu, por sua
vez, foi
destinada a um
imenso e pouco movimentado depósito e
estoque de
suprimentos. Logo
na entrada
três enormes mesas
baixas e bem
compridas,
alinhadas lado
a lado, com
postos para
dois
funcionários
em cada uma
das
extremidades. Até
elas, vindo lá
do fundo da
imensa sala, um
par de
esteiras para
cada mesa, em
movimento
ininterrupto
de ir e vir. Nos
dias mais
tranquilos, só
um desses
conjuntos dá
conta de todo
o movimento.
Ao fundo, prateleiras
tão altas
quanto o imenso
pé direito
desse lugar, tem
seus espaços
divididos
entre roupas
de uso
pessoal, cama,
mesa e
banho,
papéis e
tintas,
convencionais
e tecnológicos
de toda sorte ,
além de alguns
poucos
produtos
químicos de uso bastante restrito.
Lá
atrás depois
das
prateleiras,
quase que
esquecidas por
todos, ficam
duas salas de
recuperação e
repouso.
Acontece que a
equipe que
trabalha na ex-antessala
do céu, em
seus momentos
de
descanso, está
sempre
querendo passear pelos
portais do
céu, saber o
que está
acontecendo por ali,
conversar com
os amigos e
mesmo que
forem repousar,
fazem isso em
suas casas, ou
praças dos
arredores. O
fato é que,
sobretudo em
dias muito
chuvosos como foi essa segunda feira, a iluminação
normalmente
estourada de
branco dessas
salas,
fica bem mais
amena e
aconchegante,
o som baixo,
grave e
contínuo das
esteiras,
fica distante
o suficiente
para tornar-se um
mantra e a
temperatura é
simplesmente
ideal.
Sim,
já houve quem
me perguntasse
sobre
como obtive essas informações e eu não vi problemas em dizer:
_Os Pássaros, aqueles que me visitam à noite as vezes, guiaram-me uma vez até lá. O complicado é não ter certeza se com eles atravessei os portões de chifres ou os portões de marfim...enfim. Depois de cruzá-los e caminhar por um certo tempo num desses caminhos que não se pode bem distinguir onde fica, por parecerem apenas lugares entre lugares, o trecho meio escuro foi-se iluminando e eu estava lá às portas da antessala do céu.
Um funcionário me aguardava à porta e gesticulando pediu-me que o acompanhasse. Meio hesitante, meio encantado eu fui seguindo e entendendo que deveria ficar quieto e que ele não iria falar nada, não sei ser mudo mudo ou porque não podia falar. Caminhamos ao lado oposto das mesas e esteiras e por todas as vezes que olhei, aqueles que trabalhavam lá não desviaram a cabeça em nossa direção.
_Os Pássaros, aqueles que me visitam à noite as vezes, guiaram-me uma vez até lá. O complicado é não ter certeza se com eles atravessei os portões de chifres ou os portões de marfim...enfim. Depois de cruzá-los e caminhar por um certo tempo num desses caminhos que não se pode bem distinguir onde fica, por parecerem apenas lugares entre lugares, o trecho meio escuro foi-se iluminando e eu estava lá às portas da antessala do céu.
Um funcionário me aguardava à porta e gesticulando pediu-me que o acompanhasse. Meio hesitante, meio encantado eu fui seguindo e entendendo que deveria ficar quieto e que ele não iria falar nada, não sei ser mudo mudo ou porque não podia falar. Caminhamos ao lado oposto das mesas e esteiras e por todas as vezes que olhei, aqueles que trabalhavam lá não desviaram a cabeça em nossa direção.
Quando chegamos às salas ao fundo, o misterioso que não falava, abriu a porta da primeira sala e me indicou que na segunda eu não deveria entrar. Deu a entender que poderia ficar à vontade e que iria se retirar. Acenei com a cabeça que sim e ele se foi. Olhei em redor e naquele todo amplo e branco, de luz aconchegante, escolhi uma das longas e acolchoadas cadeiras de descanso e estiquei meu corpo nela. Que conforto incrível, que paz, que vontade de estar lá novamente e sentir-me como naquele dia eu senti, nessa segunda-feira cansada.
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