
A vida é mesmo engraçada,
engraçada e espantosa ... a nossa capacidade de rir,
quando o que se quer mesmo é chorar,
quando muito do que é bom são as lembranças,
quando o dia-a-dia se revela em baixa qualidade e meios-tons,
quando o dia-a-dia se revela em baixa qualidade e meios-tons,
quando não há fotografias na parede pra me lembrar.
Engraçado não poder me decidir,
ora lascando aqui um xiste,
ora ali um resmungo, ou uma chacota,
tudo me serve bem pra eu não ter que falar.
Fala por mim, eloquente, o silêncio,
por de traz das palavras,
nada poderia ser mais contundente e sagaz,
nada resiste assim tanto tempo,
eu não me olho mais no espelho,
não quero mais.
não quero mais.
A questão que fica é a de que não para mais nada,
na pauta surrada das repetições demasiadas,
restando a dúvida, de se existe uma autêntica tristeza,
ou se mesmo ela, deve pedir licença e se retirar.
À medida em que a vida comum e a idade,
me chamam à responsabilidade,
que os dias somados, as estações rastejando no calendário,
que os dias somados, as estações rastejando no calendário,
dando a volta nos anos, que eu nem percebo passar,
vão se esgotando rápido demais.
A vida assim se configura numa simplicidade honesta,
tão besta e verdadeira que não dá mais espaço aos lamentos,
esgarçam-se os tormentos, até mesmo os mais presentes,
então eu, você, seguimos feito gente que em sente direito,
feito bons atores de um filme não tão bom assim.
A resposta certa está lá fora, deixou a porta aberta,
olha pela fresta, com um sorriso de canto de boca,
gargalha uma risada rouca, olha-nos sem se demorar,
não vejo ninguém aceitando seu convite,
mas se visse, seria capaz de enxergar?
...
Depois de tanto tempo calado,
me animo a deixar esse recado,
e embora possa parecer ele, triste por demais,
dá-me alento pra continuar,
mesmo sem entender direito o mapa,
mesmo desconhecendo a origem, a razão e a sorte,
mesmo encantado, como sempre, pela morte,
erguendo-me cansado de dentro de mim mesmo,
pra continuar.