28 janeiro 2007

Depois que passa




(O Velho Moinho- Vincent Van Gogh)

A fome, a chuva, a doença, a saudade...
Fica um silêncio, um eco, fica uma vontade,
De que tudo se reforme,
Que o navegador dobre de novo,
O Cabo da Boa Esperança.

Fica uma lembrança congelada,
sem aroma, sem textura e sabor,
que vai amarelecer e desmanchar,
soprada pelo vento, se perder,
até amanhã, ou depois.

Depois de virada a página,
depois de esquecida a fotografia,
o pó assume esse domínios,
lento mais incansável,
tomará toda essa Quinta Perdida.

Então, um dia se somará aos outros,
as folhas viradas do calendário,
sem legenda, sem sumário,
cardápio farto para Cronos, devorador.

Mais tarde, pórem,
visto a vida dar-se em ondas,
como um entulho na praia,
ainda irá voltar.

Olharemos assim, entortando o pescoço,
num esforço para reconhecer,
de onde vem essa familiaridade,
até que venha um gosto amargo na boca,
ou uma terna melancolia,
a Fênix a renascer.

Nesse instante toda a espiral do tempo,
desmancha e cai,
podemos logo nos ver de volta,
tantos anos antes, tanta vida antes...

...

Quem será que vai deixar essa porta aberta,
quem vai esquecer o sinal de alerta,

Quem vai rápido balançar a cabeça,
pra logo esquecer?

Pra ficar só aqui



Coloco essas poucas palavras,
pra registrar a falta que sinto,
provavelmente de algo, que nunca existiu,
não do jeito que achei que fosse.

Você até deve ler aqui e pensar,
mas vai fingir que não leu, ou não,
não,
realmente não importa mais,
deixa prá lá, ficou no passado...

Me dá saudade,
mesmo assim.