19 abril 2008

Mais nenhuma rima preciso ter

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Às vezes parece que a vida não desce,
não sobe, não cresce e aparece.

Às vezes parece que tem um engasgo perdido,
no espaço entre o estômago e o ouvido,
faz eco e aperta o peito, parece defeito,
incomoda essa aflição sem jeito, sem sentido.

Em algo do que ouço e vejo, parece que se enseja um desejo,
começo a me interessar, um olhar, um lampejo,
algumas idéias em rodopio, sinistro,
pergunto-me se confio, se insisto.

Tenho vontade de olhar o mar e mergulhar,
vontade de não deixar, a onda vir e voltar,
sentir-me imerso, de todo envolvido,
mas me pego disperso, em memórias, ressentido.

_Ah, quem quer que me ouça, que transtorno descabido!
parece-me coração de louça, mal colado depois de partido,
não entendo, não me parece ter porque,
então me lembro, de uma figura, que pode ser você.

Você, que foram tantas pessoas ao longo da minha vida,
parece perfeito achar essa acolhida, para um não sei quem, nem o que,
ótima maneira de ter um objeto, responsável pela ferida,
muito conveniente me esconder no dejeto, ter um algoz, nessa lida.

Quase me basta essa mentira, quase me convenço, a me perder,
tão assim decidido, parece que sofro, mas não posso deixar de escarnecer,
_Ora que vexamosa essa postura, não me venha, que não dura,
esse lamento meloso, esse nhenhenhém seboso, nem vem que não tem!

Salva-me mais uma vez, de mim, meu companheiro, o riso,
dá-me voltas sem fim, para o alívio, o remédio preciso,
solta-me as amarras dos músculos, infla meu pulmão preu respirar,
espreme meus furúnculos, aplica-me unguento, pra me curar.
Rio então, riso que corre caudaloso...mais nenhuma rima preciso ter.

Você e




Morrer são duas coisas que me interessam. Definitivamente.
A morte pela sua inevitabilidade, mas em especial pelo seu aspecto de sombra do viver.
Sobre você, eu poderia dizer, mas ainda não sei bem o que.
Então eu falo sobre morrer.

Morrer como processo contínuo.
Morrer como envelhecimento.
Morrer como transformação.
Morrer para desapegar-me.
Morrer para transitar entre mundos.
Morrer para mergulhar no esquecimento profundo.

Agora que eu desejo a vida de uma forma completamente nova, a morte me cai bem.
Para cima e para baixo, escorregando por escadas em espiral.

Vou deixar para você um sorriso escondido no meio dessas palavras estranhas.
Vou dizer que me assanha saber o quanto a gente se entendeu antes mesmo deu entender.

Dobro duas folhas de papel em um origami improvável.
Sopro no ar, balançando um móbile imaginário.
Danço com a cabeça, lembrando do seu rosto.
Acaricio meu próprio ombro, como se não fosse.
Me entrego a preguiça de levantar, mais uma vez.
Venho até aqui e dedico tudo isso a você.