
Que passasse assim, tanto tempo, sem que eu pudesse dizer...
Comecei a semana fazendo coisas simples, que há muito não podia.
Lavar quintais, ajudar na limpeza e compras da casa, fazer uma comida especial, colher acerola e fazer suco...ai, ai, ai ai...que bucólico :P
Mas também comecei a fazer coisas demais ao mesmo tempo, correndo pra um lado e pro outro fazendo cotações, falando com fornecedores, ainda vendo compromissos com a empresa antiga.
Também estou me sentindo cheio...acho que é essa coisa de parar de fumar, tô comendo demais.
Engraçado...não é reclamar não, que eu to achando muito bom essa fase de desvinculação definitiva e preparação para o futuro, mesmo já em meio a tantos compromissos para atender.
Sabe o que é incrível? Isso me faz perceber o quanto eu ainda tenho que e quero trabalhar para mudar. Que tem que ser de dentro para fora e que todo muito será pouco, caso não seja exatamente aquilo de que precisamos.
No começo da semana pensei na figura da temperança e achei um tal "Pequeno tratado das grandes virtudes".
Agora eu sei bem pq me veio esse interesse. Agora eu sei, que muito mais eu tenho que saber:
"Portanto, é próprio de um homem sábio usar as coisas e ter nisso o maior prazer possível (sem chegar ao fastio, o que não é mais ter prazer).” A temperança se situa quase toda nesse parêntese.
É o contrário do fastio, ou o que leva a ele; não se trata de desfrutar menos, mas de desfrutar melhor. A temperança, que é a moderação nos desejos sensuais, é também a garantia de um desfrutar mais puro ou mais pleno. É um gosto esclarecido, dominado, cultivado. Spinoza, no mesmo escólio, continuava assim:
“É próprio de um homem sábio, digo eu, mandar servir em sua refeição e para a reparação de suas forças alimentos e bebidas agradáveis ingeridos em quantidade moderada, como também perfumes, o adorno das plantas verdejantes, os adereços, a música, os jogos que exercitam o corpo, os espetáculos e outras coisas da mesma sorte, de que cada um pode fazer uso sem prejuízo para outrem.”
A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade.
Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos dependentes. É fácil? Claro que não."
in , Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
De André Comte-Sponville
Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999
Tradução de Eduardo Brandão
Comecei a semana fazendo coisas simples, que há muito não podia.
Lavar quintais, ajudar na limpeza e compras da casa, fazer uma comida especial, colher acerola e fazer suco...ai, ai, ai ai...que bucólico :P
Mas também comecei a fazer coisas demais ao mesmo tempo, correndo pra um lado e pro outro fazendo cotações, falando com fornecedores, ainda vendo compromissos com a empresa antiga.
Também estou me sentindo cheio...acho que é essa coisa de parar de fumar, tô comendo demais.
Engraçado...não é reclamar não, que eu to achando muito bom essa fase de desvinculação definitiva e preparação para o futuro, mesmo já em meio a tantos compromissos para atender.
Sabe o que é incrível? Isso me faz perceber o quanto eu ainda tenho que e quero trabalhar para mudar. Que tem que ser de dentro para fora e que todo muito será pouco, caso não seja exatamente aquilo de que precisamos.
No começo da semana pensei na figura da temperança e achei um tal "Pequeno tratado das grandes virtudes".
Agora eu sei bem pq me veio esse interesse. Agora eu sei, que muito mais eu tenho que saber:
"Portanto, é próprio de um homem sábio usar as coisas e ter nisso o maior prazer possível (sem chegar ao fastio, o que não é mais ter prazer).” A temperança se situa quase toda nesse parêntese.
É o contrário do fastio, ou o que leva a ele; não se trata de desfrutar menos, mas de desfrutar melhor. A temperança, que é a moderação nos desejos sensuais, é também a garantia de um desfrutar mais puro ou mais pleno. É um gosto esclarecido, dominado, cultivado. Spinoza, no mesmo escólio, continuava assim:
“É próprio de um homem sábio, digo eu, mandar servir em sua refeição e para a reparação de suas forças alimentos e bebidas agradáveis ingeridos em quantidade moderada, como também perfumes, o adorno das plantas verdejantes, os adereços, a música, os jogos que exercitam o corpo, os espetáculos e outras coisas da mesma sorte, de que cada um pode fazer uso sem prejuízo para outrem.”
A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade.
Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos dependentes. É fácil? Claro que não."
in , Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
De André Comte-Sponville
Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999
Tradução de Eduardo Brandão