22 julho 2009

Cala boca e fala logo



A vida é mesmo engraçada,
engraçada e espantosa ... a nossa capacidade de rir,
quando o que se quer mesmo é chorar,
quando muito do que é bom são as lembranças,
quando o dia-a-dia se revela em baixa qualidade e meios-tons,
quando não há fotografias na parede pra me lembrar.

Engraçado não poder me decidir,
ora lascando aqui um xiste,
ora ali um resmungo, ou uma chacota,
tudo me serve bem pra eu não ter que falar.

Fala por mim, eloquente, o silêncio,
por de traz das palavras,
nada poderia ser mais contundente e sagaz,
nada resiste assim tanto tempo,
eu não me olho mais no espelho,
não quero mais.

A questão que fica é a de que não para mais nada,
na pauta surrada das repetições demasiadas,
restando a dúvida, de se existe uma autêntica tristeza,
ou se mesmo ela, deve pedir licença e se retirar.

À medida em que a vida comum e a idade,
me chamam à responsabilidade,
que os dias somados, as estações rastejando no calendário,
dando a volta nos anos, que eu nem percebo passar,
vão se esgotando rápido demais.
A vida assim se configura numa simplicidade honesta,
tão besta e verdadeira que não dá mais espaço aos lamentos,
esgarçam-se os tormentos, até mesmo os mais presentes,
então eu, você, seguimos feito gente que em sente direito,
feito bons atores de um filme não tão bom assim.

A resposta certa está lá fora, deixou a porta aberta,
olha pela fresta, com um sorriso de canto de boca,
gargalha uma risada rouca, olha-nos sem se demorar,
não vejo ninguém aceitando seu convite,
mas se visse, seria capaz de enxergar?
...

Depois de tanto tempo calado,
me animo a deixar esse recado,
e embora possa parecer ele, triste por demais,
dá-me alento pra continuar,
mesmo sem entender direito o mapa,
mesmo desconhecendo a origem, a razão e a sorte,
mesmo encantado, como sempre, pela morte,
erguendo-me cansado de dentro de mim mesmo,
pra continuar.


17 maio 2009

Red




Lá vou eu de novo,
Mas não, isso não é um peso pra mim.

Eu aprendi a confiar, sem estar perto pra ter provas,
Escolhi algo, que mesmo distante me conforta demais,
As outras coisas deixei pra traz,
As outras ofertas do mundo não me atraem mais.

Vou viajar levando mais que eu mesmo dentro de mim,
Vendo todas as luzes e cores de uma forma diferente,
Quem não sente que pode ser assim, sofre,
De uma maneira que eu decidi não sofrer mais.

Quem pode me dizer dessa história qual será o fim?
Mas se pode, não me diga, ainda assim,
Prefiro viver alimentando o desejo de que seja perfeito,
Aprendendo a superar quando não for, por um bem maior,
Construindo uma fortaleza que me proteja do mundo,
Quando esse mundo decidir levar à minha porta tempestades e marés fortes,
Aprendendo a me deleitar com todas as coisas boas,
Que também hão de vir.

Só te digo que agora, mora em mim a reverência,
Que me cubro de decência para recepcionar,
O cortejo de um futuro feliz, que já começou,
A aurora de uma era de mais amor e mais paz.

Bendita seja a vida nova que está a começar!


10 maio 2009

Um Dia




Será que a passagem do tempo nos torna melhores?
Será que o que o espelho nos mostra, todos os dias, vai ficando mais familiar ou estranho?
Será que as respostas comuns e fáceis nos bastam?

...


Eu não sei dizer a palavra certa,
Por mais que esteja alerta,

Ela não vem,
Eu posso aprender o que ainda não sei,
Posso arrumar um jeito de te dizer ,
Tudo que há no fundo do peito,

Ainda assim, você pode não entender.

...


Você pode ser perfeita,
Pode abrir todas as portas,

Você pode dar voltas,
Suficientes para me confundir,
Você pode estar certa,
Você pode não querer ter razão.
...

Nós ainda vamos nos encontrar muitas vezes,

Eu ainda terei muitos afazeres, você os seus,
Nós ainda nos abraçaremos nas despedidas,
Ainda sentiremos saudades,
Até o último adeus.

...

Por hora ficam apenas umas palavras,
Uns pensamentos,
Por hora, ainda só a passagem das horas,

Nunca será tarde demais.

19 março 2009

Pálida




eu nao queria te dizer algo assim,
qualquer coisa,
eu não queria estar longe assim,
não queria que o texto fosse irregular assim,
eu nao queria tanta coisa,
tanta coisa.


agora que você tem idade suficiente para ser a mãe de uma criança no fim da infância, mas sua sorte e sua escolha, não foram essas, agora...o que será?


agora que as pessoas envelhessem a olhos vistos,
agora que eu não encontrei o mesmo que te faz feliz,
e as salas de espera estão cheias de gente inquieta,
quem vai juntar os trapos da história,
quem será sensato para não a repetir?


só pelo ensaio tardio desse momento,
me desculpo, mas não aguardo alento,
me dispo e dissipo, numa bruma de madrugada,
vou à sacada e me deixo cair,
dessa queda flutuo, abro os braços,
no meio do caminho lá pra baixo,
começo a subir, olha que estranho, a subir,
olha que movimento, tão estranho, tão estranho,
mas eu sei, estou subindo pra te encontrar.


agora, que não é a hora, nem o lugar,
que não tem mais jeito, eu suspeito,
agora está perfeito, o tecido desse sonho,
onde eu vou pra te ver, vou devagar,
pra que estejas pronta, lá vem você,
pronta, vestida só um cetim,
vem pra mim, abre os braços,
estico os meus, abre os braços,
me puxa, eu cheguei, vim pra ti.


agora, estamos juntos, como não era há muito,
lá debaixo, ninguém nos enxerga,
eu sorrio, você olha pro horizonte,
risca com o dedo, minha fronte,
na minha testa desenha um sinal,
é assim que se desperta num sonho,
você me diz, eu te abraço forte,
a gente ri, de mais alto nossa risada ecoa,
quando chega a luz do dia,
ainda brilha, estrela da manhã,
me vem o que deve ser dito,
primeiro sussuro, depois repito.


mesmo que pareça perdido,
mesmo que esqueça o sentido,
coloco os louros sobre seu cabelo,
suas bodas eu vim coroar,
olha ali aquelas nuvens correndo,
olha lá um risco de luz no mar,
vejo por dentro sua relíquia, no peito,
dobro um joelho, baixo a cabeça, tomo sua mão,
moça-senhora pálida, não há profecia,
nem runa pra te guiar, pra cá ou pra lá,
sua direção de vida aponta, se preciso afronta,
seu desejo desmonta, o que mais não há.


ao fim, acena-me em anuência,
despedimo-nos sentidos, em silêncio,
volto à terra comum, descendo escadas em espiral,
olhando pra cima, te vendo, até acabar,
até ficar pesado, de pé no chão,
até regressar, deitando na solidão,
mas fica o perfume sutil desse encontro,
momentos que gravo e me confortam,
até que um dia voltemos,
até que a distância se desfaça,
até que não tenhamos mais,
que descalços errar.

13 março 2009

Balada sem nome

Ora, ora,
Hora, hora...
Eu digo e repito, duas vezes,
Porque essa coisa é do tipo,
Que se diz de par em par,
Eu não mudo isso, porque não convém,
Porque desde o início dos tempos, foi assim.

Essa história é um bom começo,
Pacto amarrado, embrulhado em xiste,
Depois que você começa,
Não tem volta, cabra,
Eu te aviso agora, não tem fim.

O que você tem que saber,
A única coisa que vale a pena, enfim,
É onde vai o termo dessa dança,
Porque ainda não tem a resposta,
O que o faz levantar todo dia,
O que não te deixa dormir?

Sabe bem, ó andarilho tosco,
Caminhante da volta torta,
Esse atalho que toma, à sorte,
Te levará de novo ao início,
Que seja ele um precipício,
Seja ele seu eterno porvir.

Se não toma esse caminho,
E afoito encontra a chave,
Torna-se ela a clave funesta,
Com a qual se escreve seu requiém,
Daí sim, a mortalha cega, terá de vestir.

Por isso, vira e mexe, te repito,
De maneira clara e bem honesta,
Volta e meia calará seu grito,
Mesmo abafado, não deixará de existir,
Vai com força, dar com a cara no muro,
Ou fica, a buscar seguro,
Onde não há nada pra te garantir?

02 março 2009

ainda que eu sangre


de tanto esperar e perder o tempo da espera,
perdi-me nuns corredores confusos sem fim,
dei voltas tortas à procura da figura, que será?
um espelho o que procuro, ou um muro alto assim?


de tanto calar e me alimentar do silêncio, confesso,
engodo bem urdido de dentro do peito ferido,
espera de um vale arejado sem chance de sucesso,
será minha armadilha pra mim meu passaporte perdido?


será a lança afamada do meu nome, feita pra me ferir,
será a sorte insidiosa que me consome capaz de me dobrar e ruir?
ou resta esperança que me console, milagre que desafogue,
manhã que me resgate da noite torpe, venha me ungir!

09 fevereiro 2009

Leve




A vontade de seguir,
sem pesos do passado,
quem tenho ao meu lado,
além de mim?

Quem mesmo será preciso,
além da consciência e o sorriso,
do sentido atento aos avisos,
da sutil percepção que há de vir.

Minha salvação, por mim mesmo,
não dum inferno eterno,
mas do desperdício diário,
da fuga tola de viver a esmo.

Bom tempo e passagem,
não negarei o meu direito,
me educarei a não faltar com o respeito,
pra que pouco não me entorte e leve ao fim.


07 fevereiro 2009

A porta




Sim....eu vou entrar.

Uma vez lá dentro, farei de tudo que se espera que alguém faça, depois de entrar.

Também andarei lentamente de um lado para o outro, acenando com a cabeça àqueles que cruzarem meu olhar.

Depois de estar lá, eu sei, pensarei no quanto me arrependo por haver entrado, mas afastarei os pensamentos e tentarei sorrir convincente.

Conversarei, bem mais ouvindo que falando, com quem puder suportar por mais tempo. A quem precise dar menos atenção, e possa parecer atento, mesmo ao divagar.

Me lembrarei de algumas pessoas que nunca viriam, de outras, tentando imaginar se já vieram e eu não soube. Mas nada disso será realmente interessante.

Eu ficarei quieto e andarei mais, sorrindo e acenando mais, para que não tenha que parar e falar com alguém. Até que, exausto, me sente ao canto mais escuro e feche os olhos, até enxergar, dentro da minha cabeça, a luz do dia lá fora. Onde uma brisa me toca e os murmúrios da manhã me acolhem.

Eu vou entrar. Mas antes encontrarei um lugar seguro, pra deixar meu coração guardado, aqui fora. Se eu conseguir sair, espero que ainda esteja ileso e o possa recuperar.

Eu vou entrar, já disse, mas deixo meu coração aqui fora. Não podem me obrigar a levá-lo pra dentro dessa escuridão. Não mergulharei com ele nesse abismo sem fim.

05 fevereiro 2009

Desdém para Eiko




Então, insinue que vem,
mas se furte a vir,
e não me deixe saber fácil,
se você não pôde, ou não quis.


Toda vez deixe pairar,
pode ser uma dúvida, um mistério,
ou mesmo algo que eu queira dizer,
e não consiga.

Não minta, é claro.
mas não serei rígido com as omissões.

Saiba usar de rodeios,
só não exagere para não ficar sem graça.

Provoque, sempre com sutileza,
Não deixe espaço para as certezas.

Deixe assuntos começados,
sem pressa de concluir.
Me pressione a decidir,
mas não dê importância,
qualquer que seja a decisão.
Já você, pode e deve,
demorar-se em dúvidas,
peço apenas que não sejam tolas.

Dê a entender que está me colocando em meu lugar,
mesmo sem dar referência de onde seja isso.

Não me poupe de seus problemas,
não se preocupe em ser coerente,
se eu perguntar, onde quer chegar.

Mesmo que não me diga o que deseja,
ou pode, realmente me oferecer,
não se demore em esclarecer,
isso ou qualquer outra coisa.

Por mais que possa lhe parecer estranho,
mantenha um ar seguro e tranquilo,
diante de todo esse enguiço,
para que eu me motive a seguir.



Ficou lá...

Assim, por não dizer,
de tudo faço mensagem,
toda a passagem,
me pode carregar.

Você me pergunta,
respondo que sim,
mas nem sei,
essa rota torta,
esse olhar fugidío,
mas que coisa,
ai de mim.

Por isso, a pena assinala,
essa opção vaga,
e mesmo que nunca,
venha a saber o fim,
você será minha tola,
fixação.

23 janeiro 2009

Mais uma noite

Passando em viver
a espera sem fim
sempre sem saber
o que será de mim
cantando em silêncio
ah viver, sem porvir

Deixar escorrer
o tempo esquecido
cuidar que me faz
sempre mais sentido
cair, que me move
sofrer que me envolve
o que há de vir?