31 julho 2008

Cadente



Queria que tudo tendesse a menos,
mínimo, pouco, leve, quase nada.


Queria que quase nenhum barulho fosse audível,
que o que eu pudesse ouvir, fosse murmúrio,
queria que todo bairro fosse subúrbio,
que toda música fosse bossa-nova.

Queria comer pouco, de salada e sopa me bastar,
queria andar firme, mas devagar,
que a pressa nunca me tomasse,
e ter que por a mão no peito pra ver se ainda bate.

Deixar a todos a quem olhasse, um olhar,
como se não fosse, que passa e já esqueceu,
lembrar-me pouco e vagamente,
não ser demente, não, mas em tudo fugaz.

Tomar muita água e respirar muito ar,
para todo veneno, do corpo e da alma, dissolver,
desdizer, sem nem perceber o que fiz,
mais feliz não poderia ser.


Assim, quando estivesse por esse berço cálido tomado,
vida escolhida e cultivada sem transtornos, sem igual,
poderia sentir a emoção de desejar um arroubo,
paixão de cinco minutos, que a gente suspira,
mas bem feliz, deixa passar, sim senhor.