29 janeiro 2008

Fica forte mais uma vez




Na hora de ir embora é que a coisa pega,
a verdade se revela, não se pode mais evitar.
Quando algo que já foi nosso, que já tivemos,
não nos deixa esquecer e temos, que admitir a falta que faz.

A cortina que tivemos que baixar,
as luzes que foram apagadas,
folhas, cheias de palavras fortes,
rasgadas, deixadas pra trás.

Poeira acumulada com o vento, memórias carcomidas,
sem alento, vontade de abrir a boca e dizer
antes que a última chance se vá.

...

Perdas sempre podem nos derrubar, mesmo que seja de medo.
Escrevi isso pra você, meio que me lembrando de dias perdidos, de mistérios e segredos, que um dia pudemos partilhar.
Sim, eu também tenho saudades.
Sim a sombra da perda sempre irá nos acompanhar, nos amedronta, mas também dá sentido à vida.
Nos faz cuidar melhor do que temos e criar resistência e força para deixar o que não pudermos mais segurar.

Te amo.

Quirino




Eu deveria escrever isso para dizer de alguma forma, intensa, original, assustadora ou banal: "Feliz aniversário"!

No fim das contas, acaba sendo aquela repetição de velhos clichês, que você é gente boa e especial e tudo e tal.

Não dá pra fugir disso. Então eu tenho mesmo que te dizer que o admiro pela alegria e simplicidade com que encara a vida. Detesto ter que admitir, mas é uma alegria contagiante. Sinto-me contaminado as vezes e tenho que ir ao banheiro respirar fundo e me concentrar para continuar mal humorado...dá trabalho.

Por isso desejo que continue assim (...ai, mais um clichê...) e seja engraçado, esteja gordo ou magro, pq rir das chacotas da vida é um grande presente e você pode dar-se ao luxo de tê-lo, todos os dias.

Desejo também que, por mais desencanado que seja, converse com seus medos e limitações. Entendo que você ache graça em ser candidato a esquizofrênico, mas não gostaria de ver a história da sua vida virando filme para achar que isso é legal. Já que vc gosta de monstros, é bom conversar com os seus, nem que seja para dar-lhes umas coças.

Aproveite para trocar idéias também com os Gorilas, Piratas e Bárbaros Bretões ... já que é rico seu panteão, seja próativo e aumente sempre seu networking (argh!).

Para que todos esses privilégios possam ser desfrutados sempre, não posso deixar de pedir que cuide melhor de sua saúde, faça dieta e leve isso a sério ... mas comece essa chatice amanhã, que hoje é dia de comemorar.

Hoje, hasteie a bandeira de ossos no Monte Quirinal, bata forte e ritmadamente com os punhos fechados, seus pulsos no peito e solte um forte e autêntico grunhido bárbaro.

Parabéns!

19 janeiro 2008

Que chegue logo a despedida


meu amigos estão de férias,
partiram em outras batalhas,
torço que possam vencer.

eu mesmo, não me mexi,
fiquei criando raízes, até apodrecer,
até meu fígado deixar de ser.

indo para outra cidade,
ou ficando aqui, o que precisa mudar,
ainda parece que não pode acontecer.

eu nem sei, tenho que confessar,
sobre quem é essa busca, ou sobre que lugar,
tive vontade mas constatei ainda não encontrar.

deve estar bem escondido,
além de meu entendimento,
não poderia haver melhor esconderijo.

ja me disseram que está no espírito,
eu mesmo já senti que fosse assim,
mas agora, enfim, parece que em nada consigo crer.

já deixei de querer quem despertou meus sentidos,
deixei de esperar também a companhia dos amigos,
as músicas e lágimas ficaram secas e mudas, sem mais.

...

um dia, tudo isso vai,
achei que era logo,
tudo bem, não rogo mais.










14 janeiro 2008

Depois do Baile




Nada mais é como era antes,
Tudo que foi bonito, ou triste,
Agora é eco, recordação.

Perdendo um pouco mais de apego,
Sentindo um pouco mais de medo,
Aprendendo ser mais fácil deixá-lo passar.

Quem eu queria não foi, perdeu-se, esqueceu,
Dissolveu-se no meu desejo, ou foi no seu?
Enfim, não tem pra mais ninguém, esvaneceu.

Agora dança, toda aquela esperança,
Agora descansa de toda a desilusão,
Afina consciência, que ainda te salvará.


04 janeiro 2008

Alpha




Será então a hora do ensaio, parar, enquanto o ano vai chegando ao fim. Serão, enfim.Umas horas ocas, não digo vazias, mas cheias de ecos, reverberando entre as paredes de memoráveis passados e possíveis futuros. Seremos sábios, ou burros, ao nos perdermos do presente, para vagar em tempos que não existem mais, que não se pode prever?

Não sei bem, dizer. Mas agora não me parece, de fato, que pudesse ser diferente. Visto que mesmo duros, ou frios, a gente sente, que depende desses tempos, fora do tempo presente. Para nos situarmos no rumo, para rever o caminho, fugir ao infortúnio, ou encontrar a coragem de partir do zero, por mais amarga que seja a sensação da derrota, se ainda nos bate à porta, a vontade e inconformação, então, terá de ser assim, por você, por mim.

Nesses dias raros, em que sai de minha casa e meu trabalho, para voltar aonde já foi meu lugar, assombra-me uma sensação de conforto junto aos meus, uma tranqüilidade mesmo, assim. Lembro de algumas pessoas, com quem convivo e agora estão distantes, mas essa memória nada me desperta além de um vago sorriso, um olhar para o nada, impreciso e desfocado. Um, sei lá, estado bom de saudade sem desalento.

Outra vez, em muitas das coisas comuns, me surgem acasos que parecem, tão bem cuidados, para me dizer, para não me deixar esquecer. As portas que ainda deixei fechadas, ou entreabertas, balançam com o vento, me chamando. Engraçado que, em outros tempos, esses gemidos e trancos do vento estavam acompanhados do grasnar sombrio de corvos, de gotas de chuva e céu nublado. Agora, apenas ouço o som que passa entre as árvores, da brisa que vira vento, do vento, que ao assobiar não me assunta mais. As portas batem, mas sem reclamar. Na luz estourada do dia, compõe sim um som, arranjo compassado. Não as temo mais, desejo voltar.
Não se trata mais de viagem melancólica ao passado, não mais uma viagem sonhada, em que eu deixe minha vida de lado, não. Vou agora conquistar o que havia deixado para trás e percebo que me é tão caro. Vou agora de peito mais leve encontrar no futuro o que perdi no passado e a vida continuou, obstinada, me ofercer, na praia, todos os dias, mas eu não enxergava. Agora posso ver, ouvir e sentir que me toca aos pés, trazido pela maré, pelos ciclos, os visíveis e desconhecidos.

Nessas horas, sorrio enquanto me espanto, ao viver, as portas surgindo e se transformando em presentes, vindo com as ondas, desmanchando-se em espuma. Eu os toco mais ainda não os sei capturar. Passam entre meus dedos, mas não há de que reclamar. Meu sorriso vira risada, pois só sinto a graça de enxegar e não saber ainda, o que nem como fazer.

Por hora essa risada me basta, irei torná-la muito mais a rir e a dizer.