28 maio 2007

Não há de que


Retoque sobre foto de banco de imagem.

Tanto dizer ou considerar,
já que não é por você,
pra que se interessar?
já que realmente passou a dor da lixa,
que te ardia e abrasava.

Ah sim, Deus, graças,
que eu possa um pouco mais respirar tranquilo,
que eu não me esqueça mais de como é bom,
ser, assim, simples,
estar aqui,
olhar tudo isso e rir.

A chacota que não me cabe mais,
deixa de dar a esse riso um tempêro,
mas que incrível atropelo,
da volta da vida, sobre mim,
que já não tenho mais,
que tanto querer, nem sofrer,
nem riso insidioso, que rir.

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Mesmo muito cansado, de um dia comprido demais, não pude deixar de passar por aqui.
Mais uma vez me espanta a forma como as mudanças estão chegando e ganhando terreno.
Não havia ainda me tocado que é exatamente da palavra desapego, que se trata o momento.
Olha, que de tão incrível essa liberdade, ouso dizer que ainda não lhe senti direito nem o gostinho, pois parece ter um paladar inigualável.

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Ah! Não me olhe assim,
não me fale torto,
não me falta um porto,
não me diga não,
só por dizer...

Eu aqui, você ai,
quando tiver bons modos,
terá convite,
se não souber se portar,
deixo o tempo passar,
que você em seu terreno,
há de descobrir o que precisa,
para poder partilhar,
e ser feliz.

20 maio 2007

Falta


Retoque sobre estudo de Daniel Furtado

Pouco para o fim do domingo,
Pouco que ainda possa guardar,

Faltam algumas presenças,
Mesmo que já não as queira mais,

Palavras, faltam também,
Falta compreensão e paciência,

Creio que me falta mesmo é a decência,
De deixar passar.

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Desejava sim, um remédio raro,
que não me fosse caro,
que eu pudesse ter,
que pudesse me curar,
me dar um brilho nesses olhos, embotados.

Desejava também não querer a cura,
dar um tempo pra essa cabeça burra,
que teima em não se dar com o coração,
passando as noites em claro, pedindo perdão.

Nem mais queria a sombra e o sono,
um fim talvez, que bom, assim,
partiria satisfeito em abandono.

Até que a vista das areias passadas,
não me fizessem, nada sentir.

Até o fim da estrada.

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Bem besta mesmo, tudo isso. Chega.
Pra finalizar no bom tom desse mau gosto, lembrei-me de Joy Division.
Muito bonita essa música. Vai um trecho traduzido.

Love will tear us apart

Quando a rotina corrói forte
E as ambições são pequenas
E o ressentimento voa alto
Mas as emoções não crescerão
E vamos mudando nossos meios
Pegando estradas diferentes

Então o amor
O amor vai nos separar
...

08 maio 2007

Mundano



Acho que eu fiquei tanto tempo e de tal forma afastado de tudo que se refere ao espiritual, que meus canais com o supra/além/místico, estão completamente obstruídos.

Sinto como se tivesse que mergunlhar na Baixa Idade Média da minha relação com o "Algo Maior". Preciso ir aos feudos derramados ao lado dos castelos, recorrer à igreja primitivamente já deturpada, deparar-me e depender humilhado de todo tipo de intermediário do divino.

Olhar assustado para as paredes altas da catedral, sentir o cheiro de velas e incensos e caminhar intimidado, entre o clero assustador, vestido de preto e o semblante pesaroso dos pecadores arrependidos.

Prostrar-me em um banco de madeira sebosa e ouvir o lamento dos cânticos até que o sacerdote chegue solene. Buscar manter a razão de minha busca aflita, mesmo que o santo padre coloque-se a recitar em um indecifrável latim, de frente para o Santíssimo e de costas para a turba confusa e ignorante, nós, os improváveis fiéis.

Se eu quiser falar com Deus...
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SE EU QUISER FALAR COM DEUS

Gilberto Gil - 1980

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com
DeusTenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com
DeusTenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar