29 janeiro 2007

Deja vu


Eu sei sim, já vi tudo isso acontecer.
A gente se apega às pessoas, aos relacionamentos, amizades, contextos de vida, aos hábitos e até aos objetos, confortos e posses. Parece que não pode viver sem aquilo.
Mentira e ilusão.
No meio de todo o processo pra descobrir isso, pode haver um turbilhão de sentimentos, de apego, rancor e mágoa, saudade e melancolia. Pode existir um coração que ameaça enrijecer para protejer-se de eventos futuros. Pode haver um olhar vazio que não se fixa muito mais, pra não correr o risco de se afeiçoar.
Mas esses extremos só servem bem as almas ainda pequenas, ou os propósitos das novelas e folhetins.
Não que seja doce ou tão fácil aprender, mas nesses desapegos, sem perder o valor bem medido de cada coisa, que vamos crescendo.
Nos tornando mais sólidos em nós mesmos, sem precisar por isso prescindir do valor da amizade, de compartilhar os bons momentos e os não tão bons.
Sem precisar fazer de nosso peito um desrto, para poder sentir o alívio de achar um oásis e sobretudo pra reconhecer, a cada experiência, mais e melhor, que não somos o centro do mundo....Já que o que importa é buscar o centro de nos mesmos, para nos mantermos equilibrados e caminhar rumo à inevitáveis saudades e gratas surpresas que irão surgir.

28 janeiro 2007

Depois que passa




(O Velho Moinho- Vincent Van Gogh)

A fome, a chuva, a doença, a saudade...
Fica um silêncio, um eco, fica uma vontade,
De que tudo se reforme,
Que o navegador dobre de novo,
O Cabo da Boa Esperança.

Fica uma lembrança congelada,
sem aroma, sem textura e sabor,
que vai amarelecer e desmanchar,
soprada pelo vento, se perder,
até amanhã, ou depois.

Depois de virada a página,
depois de esquecida a fotografia,
o pó assume esse domínios,
lento mais incansável,
tomará toda essa Quinta Perdida.

Então, um dia se somará aos outros,
as folhas viradas do calendário,
sem legenda, sem sumário,
cardápio farto para Cronos, devorador.

Mais tarde, pórem,
visto a vida dar-se em ondas,
como um entulho na praia,
ainda irá voltar.

Olharemos assim, entortando o pescoço,
num esforço para reconhecer,
de onde vem essa familiaridade,
até que venha um gosto amargo na boca,
ou uma terna melancolia,
a Fênix a renascer.

Nesse instante toda a espiral do tempo,
desmancha e cai,
podemos logo nos ver de volta,
tantos anos antes, tanta vida antes...

...

Quem será que vai deixar essa porta aberta,
quem vai esquecer o sinal de alerta,

Quem vai rápido balançar a cabeça,
pra logo esquecer?

Pra ficar só aqui



Coloco essas poucas palavras,
pra registrar a falta que sinto,
provavelmente de algo, que nunca existiu,
não do jeito que achei que fosse.

Você até deve ler aqui e pensar,
mas vai fingir que não leu, ou não,
não,
realmente não importa mais,
deixa prá lá, ficou no passado...

Me dá saudade,
mesmo assim.

27 janeiro 2007

Em processo



Meu coração ficou apertado,
revoltoso, embora mirrado,
não fez-se de rogado,
arrebentou as costelas,
vazou pra fora do peito.

Com cara de indignado,
deu a volta ao meu redor,
mirou-me sem respeito,
deixou claro não gostar do que viu,
disse adeus e partiu.

Eu fiquei ali, vazio,
meio sem jeito,
meio suspeito,
a duvidar de tudo e de mim.

Depois de muito tempo confuso,
amontoei minha trouxa e fui,
andando pelo mundo,
a estranhar tudo que era sentimento,
por fora e por dentro,
não tinha mais porque me iludir.
(um dia isso ainda será um ecrito mais profundo e maior, mas agora ainda não é o tempo)

25 janeiro 2007

Eu não queria



Que passasse assim, tanto tempo, sem que eu pudesse dizer...

Comecei a semana fazendo coisas simples, que há muito não podia.
Lavar quintais, ajudar na limpeza e compras da casa, fazer uma comida especial, colher acerola e fazer suco...ai, ai, ai ai...que bucólico :P

Mas também comecei a fazer coisas demais ao mesmo tempo, correndo pra um lado e pro outro fazendo cotações, falando com fornecedores, ainda vendo compromissos com a empresa antiga.

Também estou me sentindo cheio...acho que é essa coisa de parar de fumar, tô comendo demais.

Engraçado...não é reclamar não, que eu to achando muito bom essa fase de desvinculação definitiva e preparação para o futuro, mesmo já em meio a tantos compromissos para atender.

Sabe o que é incrível? Isso me faz perceber o quanto eu ainda tenho que e quero trabalhar para mudar. Que tem que ser de dentro para fora e que todo muito será pouco, caso não seja exatamente aquilo de que precisamos.

No começo da semana pensei na figura da temperança e achei um tal "Pequeno tratado das grandes virtudes".
Agora eu sei bem pq me veio esse interesse. Agora eu sei, que muito mais eu tenho que saber:

"Portanto, é próprio de um homem sábio usar as coisas e ter nisso o maior prazer possível (sem chegar ao fastio, o que não é mais ter prazer).” A temperança se situa quase toda nesse parêntese.

É o contrário do fastio, ou o que leva a ele; não se trata de desfrutar menos, mas de desfrutar melhor. A temperança, que é a moderação nos desejos sensuais, é também a garantia de um desfrutar mais puro ou mais pleno. É um gosto esclarecido, dominado, cultivado. Spinoza, no mesmo escólio, continuava assim:

“É próprio de um homem sábio, digo eu, mandar servir em sua refeição e para a reparação de suas forças alimentos e bebidas agradáveis ingeridos em quantidade moderada, como também perfumes, o adorno das plantas verdejantes, os adereços, a música, os jogos que exercitam o corpo, os espetáculos e outras coisas da mesma sorte, de que cada um pode fazer uso sem prejuízo para outrem.”

A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade.

Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos dependentes. É fácil? Claro que não."

in , Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
De André Comte-Sponville
Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999
Tradução de Eduardo Brandão

21 janeiro 2007

Tão longe e tão perto



As vezes parece que a vida deslancha um pouco, parece que o ritmo das coisas que estavam atravancadas se modifica, libera a onda e vai. As vezes quem não vinha há muito tempo aparece e a gente pode matar a saudade.

As vezes não há nada melhor que poder sentar à mesa de um bar e contar aos amigos sobre tudo que esta acontecendo. Melhor ainda se a saudade, for de bastante tempo. Acho que o coração foi feito, com a idéia de trabalhar diferente, em muitos momentos como esse, na vida de alguém. Acho que todo mundo merece.

As vezes a gente lembra de alguém com quem brigou, teve desafetos e desentendimentos e um grande ponto de interrogação se forma, vai ganhando espaço, como um eco. Esse é um bom sinal...logo poderemos reconsiderar o que passou com a saudável dimensão do tempo nos afastando dos sentimentos aflorados.

São muitos pensamentos passeando agora, pela imagem de diversas pessoas.
Hoje falei com minha mãe pelo telefone e ela disse que se preocupa comigo, com o fato deu ainda não ter conquistado o que ela acha que eu mereço. Caramba! Me surpreendi com essa fala e nem sei pq.

Hoje vou rever uma amiga que não vejo a muito tempo...
Faz tempo ela viajou para o México e nunca mais nos vimos, mesmo ela já tendo voltado para o Brasil faz tempo. Engraçado...lembrei que quando ela estava no aeroporto, aguardando o voô para voltar ao Brasil, nos falamos pelo msn. Tão longe e tão perto. Depois fiquei sabendo que ela estava falando com meu amigo, também por msn, mas essa já é outra história.

Bem vinda em sua breve estada, breve é quase tudo nessa vida, hoje em dia, a não ser que a gente coloque um pouco de história e sentimento, a não ser que a gente registre, na memória e no coração.

(Para Ana Cláudia)


Quando escolhi a imagem que anteriormente ilustrava esse post, sabia que não era aquela, embora fosse uma bela foto do filme "Tão longe, tão perto" do Wenders, que tem por tema aquela música massa do U2 e tb deu origem ao melado "Cidade dos Anjos"...

Enfim, agora achei. Essa é a capa de um dos filmes mais bonitos que já vi. Um drama intenso, mas que o tempo todo me trouxe a sensação de "melancolia confortada". As paisagens, a música...o clima é perfeito e a atuação impecável.

20 janeiro 2007

Sem novos desafios


René Magrite

Eles serão exatamente os mesmo que enfrentei aqui, todos os dias, durante 10 anos:

- Aprender a ouvir: Nada pode parecer tão fácil e ser tão difícil
- Não ser nem muito tolerante, nem muito egoísta, ambos exageros fazem mal para o fígado
- Sem senso de humor a gente fica chato e insuportável, até pra gente mesmo
- Julgar, alimentar expectativas e subestimar os outros, são formas de fugir de suas próprias limitações
- Aceitar-se e aos outros, sem perder a vontade de mudar
- Ter opinião e saber dosá-la, "hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás" :P

Afinal, a vida É simples, a gente que complica.

Obrigado a todos por me ensinarem isso e muito mais.
Só me resta aprender :)

.......................

Esse foi meu e-mail de despedida, enviado em meu último dia na Lecom.

16 janeiro 2007

Pra entender de onde vem


"Mentira" - Créditos não encontrados

O nome desse blog é uma referência à minha data de nascimento, ao eterno questionamento sobre os "status quo" e muito intensamente sobre meu atual momento de vida.
Pra entender a origem histórica:

"A França era um país absolutista nesta época. O rei governava com poderes absolutos, controlando a economia, a justiça, a política e até mesmo a religião dos súditos. Havia a falta de democracia, pois os trabalhadores não podiam votar, nem mesmo dar opiniões na forma de governo. Os oposicionistas eram presos na Bastilha (prisão política da monarquia ) ou condenados à guilhotina.
A sociedade francesa do século XVIII era estratificada e hierarquizada. No topo da pirâmide social, estava o clero que também tinha o privilégio de não pagar impostos. Abaixo do clero, estava a nobreza formada pelo rei, sua família, condes, duques, marqueses e outros nobres que viviam de banquetes e muito luxo na corte. A base da sociedade era formada pelo terceiro estado ( trabalhadores, camponeses e burguesia ) que, como já dissemos, sustentava toda a sociedade com seu trabalho e com o pagamento de altos impostos."
...
"A situação social era tão grave e o nível de insatisfação popular tão grande que o povo foi às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar do governo a monarquia comandada pelo rei Luis XVI. O primeiro alvo dos revolucionários foi a Bastilha. A Queda da Bastilha em 14/07/1789 marca o início do processo revolucionário, pois a prisão política era o símbolo da monarquia francesa.
O lema dos revolucionários era " Liberdade, Igualdade e Fraternidade ", pois ele resumia muito bem os desejos do terceiro estado francês."

Wikipedia

15 janeiro 2007

Nós vamos chegar





Na hora certa
Na medida perfeita
Falta pouco para comemorar

E quando estivermos juntos, comemorando essa conquista tão sonhada, meu gesto de agradecimento será uma reverência silênciosa.

...

Esses dias redescobri o último CD do "Coldplay" e a música "Square One'.
Olhando sua tradução, me apaixonei por esses versos, que agora também são meus, pelo quanto me fizeram pensar e sorrir. Comentei com meu amigo que essa letra me lembra muito "Primeiro Andar", do "Los Hermanos"...show!

Ai Vai um trecho traduzido:

...

Square One (seria primeira opção?)

Você está no controle
Há algum lugar onde você queira ir?
Você está no controle
Há algo que você queira saber?
O futuro é para ser descoberto
O espaço em que viajamos

Do topo da primeira página
Ao fim do último dia
Do começo a sua própria maneira
Você só quer alguém ouvindo o que você diz
Não importa quem você é

Debaixo da superfície tentando ultrapassar
Decifrando os códigos em você
Eu preciso de uma bussola, desenhe um mapa para mim
Eu estou no topo, eu não posso voltar...

09 janeiro 2007

Deixa estar




Que toda essa passagem valerá a pena
Além da vontade, dos mandos e desmandos
Além da razão, você também está, à partir

Deixa que role uma lágrima
Por dentro e por fora, não demora
Ela vem nos redimir

Afasta esse ar parado, nuvem de humores ao seu lado
Dobra em três partes um manto santo
Coloca em seu peito pra te ajudar a respirar

Não vejo, mas sinto, seus dedos
Contando as contas do terço
Das ações que viram vontade pra nos salvar

...........................................

Vc ainda busca o que fazer pra ser feliz
De tantas coisas que deseja, não é fácil escolher

Eu ainda busco me conhecer, com ou sem novas escolhas
Ainda me falta paciência, embora não pareça tanto assim

Você precisa enxergar

Eu preciso crescer

...........................................

Eu vejo a paisagem, as vzs como suas fotos, as vzs como minhas palavras
Em preto e branco, pela preferência de não ser muito intenso
Paro e penso...enquanto você se impacienta, precisa agir

Muita música as vezes atrapalha, concluo eu
Enquanto você precisa levar uma de suas irmãs para algum lugar

Sim, eu posso ficar muito tempo sem dormir
Não, você não pode deixar de dizer, o que está entalado aqui

...........................................

O silêncio vai atrapalhar mais uma vez?
Quase pálida, mesmo a minha tez
As rimas mal feitas, ou alguns horários desencontrados
Quem sabe, talvez...

...........................................

Não deve ser por nada disso que alguém se dá ao trabalho de escrever
Mas por mim, também, não será por promessas ou clichês

O que será, por você?

05 janeiro 2007

Inspiração



Não pode haver
nessa ou qualquer outra
condição

carinho maior
lembrança mais dedicada
sorriso a qualquer hora

admiração
referência
devoção

pode haver um parque
um jardim com mesas amplas
o som de vozes conhecidas
em músicas e conversas

abraços de festividades
e muitas memórias
de todas as águas

um sopro de brisa
e salada
carne bem passada
cerveja gelada

não pode haver
espaço
para o que não vale
o que não é valor
o que não cativa
o que não toca o coração

só pode haver
a melodia
natural
daqui e das outras
terras das nossas origens

também pode
um olhar perdido
que tenta antecipar
o futuro escondido no tempo

olhar que logo retorna
e se volta
aos olhos que prendem
acolhem e incentivam

olhar pode
pode tudo que é bom
enquanto pessoa humana no mundo
que ainda nao é defunto
e tem bem que aproveitar
aqui
pra viver
e amar!

:)

(Para Marisa de Lima, em 07/12/2002)

03 janeiro 2007

Seria cômico mesmo que não fosse



Caramba...incrível.
Dei risada de mim mesmo. Estava com medo de escrever o 1º post do ano...
:P
Muita expectativa. Quase que eu amarelei hoje.
Pro meu alívio, coloquei uma música do Zeca e ... puuuutz, tudo a ver.
Minha casa...aqui é minha casa virtual, não dá pra ficar com medo de colocar, o que eu quiser...sem grandes cobranças.
Tipo...deixar uns pés de meia na sala.
O legal é que a letra fala tudo o que eu queria e já tentei dizer algumas vezes aqui.

Não quero ser trite...Não quero ser alegre...Nem quero ser estanque :)))
Perfeito isso!
Aí vai a letra toda:

Minha Casa
Zeca Baleiro

É mais fácil cultuar os mortos que os vivos
mais fácil viver de sombras que de sóis
é mais fácil mimeografar o passado
que imprimir o futuro
não quero ser triste
como o poeta que envelhece
lendo maiakóvski na loja de conveniência
não quero ser alegre
como o cão que sai a passear com o seu dono alegre
sob o sol de domingo
nem quero ser estanque
como quem constrói estradas e não anda
quero no escuro
como um cego tatear estrelas distraídas
quero no escuro
como um cego tatear estrelas distraídas

amoras silvestres no passeio público
amores secretos debaixo dos guarda-chuvas
tempestades que não param
pára-raios quem não tem
mesmo que não venha o trem não posso parar
tempestades que não param
pára-raios quem não tem
mesmo que não venha o trem não posso parar

veja o mundo passar como passa
uma escola de samba que atravessa
pergunto onde estão teus tamborins
pergunto onde estão teus tamborins
sentado na porta de minha casa
a mesma e única casa
a casa onde eu sempre morei
a casa onde eu sempre morei
a casa onde eu sempre morei